Por Weruska Goeking, Valor Investe — São Paulo em 10/07/2019
Dia de IPO (initial public offering ou oferta pública inicial) é dia de festa na bolsa. Do lado da empresa, a abertura de capital significa que o negócio é um sucesso e o momento é de explorar novos desafios.
Do lado do mercado financeiro, a sinalização é de que o terreno está fértil e a perspectiva é de crescimento econômico. Para o investidor, é a chance de comprar ações por um preço baixo e com potencial de valorização (ao menos é o que se espera).
Em busca desse mesmo enredo, mas com foco em empresas iniciantes, a CapTable estreia hoje (10) sua empreitada como plataforma de investimentos que permite o acesso de qualquer pessoa física a “IPOs” de startups a partir de uma aplicação mínima de R$ 1 mil.
Esse tipo de investimento ainda não é popular, mas engana-se quem pensa que investimentos desse tipo são exatamente uma novidade. A CapTable chega em um mercado que já tem na competição empresas como Kria, EqSeed e StartMeUp, entre outras.
Em busca de ganhar espaço nesse segmento e torná-lo mais atraente ao investidor comum, a CapTable fará IPOs somente de empresas que já venderam uma etapa conhecida como MVP (Minimum Viable Product), em que as startups passam por um período de testes para a formatação de seu produto e o aperfeiçoam.
A própria CapTable passou por esse processo até ganhar a StartSe, conhecida plataforma digital que conecta o mundo de startups, como sócia.
“A ideia é democratizar o investimento para que qualquer pessoa física tenha acesso a algo que antes era separado apenas para grandes investidores. É dar mais uma opção para os investidores”, diz Guilherme Enck, um dos fundadores da CapTable.
Junto de Paulo Deitos, também fundador da CapTable, Enck calcula ter investido de R$ 300 mil a R$ 500 mil na empresa e espera recuperar esse valor após um ano de operação.

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Paulo Deitos (à esquerda) e Guilherme Enck, fundadores da CapTable — Foto: Divulgação/CapTable
Menu de quatro startups
A plataforma estreia com quatro startups disponíveis para investimentos, com captação esperada de R$ 3 milhões no total.
Paulo Deitos, fundador da CapTable, conta que a maior captação esperada é da Trashin, com R$ 1,1 milhão. A startup realiza gestão de resíduos ao conectar geradores de lixo, cooperativas de reciclagem e as indústrias envolvidas na cadeia de produtos descartados.
A Eirene Solutions busca captar R$ 700 mil para seu negócio focado em desenvolvimentos de novas tecnologias para inovar o setor agrícola com foco em sustentabilidade.
A InBeauty busca R$ 800 mil para seu trabalho de pesquisa aplicada em nanotecnologia para desenvolver suplementos de vitaminas e minerais em cápsulas que consigam fazer o organismo absorver nutrientes necessários para o fortalecimento de unhas e cabelos e evitar problemas de saúde.
Por fim, a que pretende levantar menos dinheiro é a NOC, que precisa de R$ 400 mil em investimentos para ampliar sua produção de conteúdo para pequenos negócios no varejo local, permitindo o acesso de empreendedores de pequeno porte a campanhas de publicidade.
Depois da estreia com essas startups, Deitos e Enck esperam fazer uma nova rodada de IPOs todos os meses.
Como investir?
Embora os valores de financiamentos totais de cada uma das startups disponíveis sejam elevados, o investidor pode aplicar a partir de R$ 1 mil por meio da CapTable.
Para isso, é preciso entrar no site da empresa, fazer seu cadastro, escolher as empresas em que tem interesse e o capital disponível.
Antes, contudo, pese os prós e os contras de investir numa startup e alinhe expectativas e realidade.
Diferentemente de um CDB, em que há previsibilidade sobre o retorno do valor investido e garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), não há como prever a rentabilidade de um aporte em uma startup. Por outro lado, a expectativa é de que o ganho seja muito maior, exponencial.
Vale lembrar que a experiência de investimento em empresas iniciantes é que nem todas vão gerar lucro — aliás, pode ocorrer o contrário. Uma recomendação comum, portanto, é que se diversifique a carteira, na expectativa de que o retorno certeiro de um negócio possa compensar possíveis perdas em outras apostas.
Os contratos dos investidores com as startups oferecidos pela CapTable têm validade de cinco anos. Após isso, o investidor pode decidir virar sócio ou embolsar os eventuais lucros.
A saída do negócio também pode ser feita antes do fim do contrato, mas os sócios da CapTable explicam que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ainda não tem um mercado secundário regulado para isso. Assim, esse tipo de investimento não tem a mesma liquidez de outras aplicações. O mercado primário é regulamentado pela Instrução CVM nº 588.
Mas é possível vender a posição para a própria startup ou mesmo para outro investidor que se mostrar interessado. E a CapTable informa que ajudará nesse processo.
Se você decidir por esse investimento de risco, escolher segmentos com os quais têm afinidade ou interesse ajuda na análise, escolha e acompanhamento periódico do investimento.
Será possível verificar o desempenho mensal da startup escolhida por meio do site, assim como acontece com empresas de capital aberto na bolsa de valores.
Apesar de algumas semelhanças com o mercado acionário, nunca é demais lembrar: esse tipo de investimento é mais arriscado, tem menos liquidez e os próprios fundadores CapTable orientam que o investidor diversifique sua aplicação entre seis startups.
É como formar uma carteira de ações: nunca coloque todos os ovos em apenas uma cesta.
Publicado originalmente em https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/noticia/2019/07/10/plataforma-permite-investir-em-startups-a-partir-de-r-1-mil.ghtml